Arquidiocese de São Paulo
No dia 20 de setembro foi publicada a lista dos participantes da
assembleia especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia. Além de todos
os bispos diocesanos e auxiliares da área pan-amazônica, que envolve
nove países, também outros bispos da América e de outras partes do mundo
foram incluídos, além de peritos e “convidados fraternos” de outras
Igrejas cristãs não católicas, que atuam na Amazônia. Ao todo, serão
mais de 180 os membros dessa assembleia sinodal, que será aberta pelo
Papa Francisco no próximo dia 6 de outubro, no Vaticano, e se estenderá
até o dia 27 de outubro.
Trata-se de uma assembleia “especial” do Sínodo dos Bispos, e isso
significa que seu tema diz respeito a uma questão local ou a um ambiente
geográfico e eclesial restrito, não universal, da atuação da Igreja. No
caso, trata-se da Amazônia. Não é a primeira assembleia especial do
Sínodo dos Bispos. Na preparação do grande Jubileu do início do terceiro
milênio cristão, foram feitas diversas assembleias continentais, que
também foram especiais. Para o Oriente Médio, foram realizadas até duas
assembleias especiais.
Não deveria causar estranheza, portanto, que o Papa Francisco tenha
convocado uma assembleia especial do Sínodo dos Bispos para tratar da
vida e da missão da Igreja na grande Amazônia. Como, pois, explicar
tanta polêmica sobre o Sínodo para a Amazônia? Várias explicações são
possíveis. O primeiro motivo refere-se à natureza dessa assembleia
eclesial. Alguns entendem que se trata de uma reunião com objetivos
políticos ou geopolíticos, talvez até para desestabilizar a soberania
dos países da área amazônica sobre seus respectivos territórios. Isso,
no entanto, é uma grande fantasia e inverdade. Se alguém tiver esse tipo
de projeto, não é certamente o Papa Francisco, nem a Igreja Católica.
Fiquemos bem tranquilos a esse respeito.
Outros talvez pensam que a assembleia do Sínodo seja uma espécie de
reunião decisória sobre uma série de questões religiosas e não
religiosas. Aqui é preciso esclarecer logo que não se trata disso. As
assembleias do Sínodo dos Bispos são sempre consultivas e não têm poder
de tomar decisões. O Papa convoca uma assembleia do Sínodo para ouvir e
consultar sobre um determinado assunto ligado à vida e à missão da
Igreja. No final do processo de consulta e reflexão, a assembleia
entrega ao Papa o fruto dessa reflexão na forma de “propostas”. O Papa,
depois, diz a sua palavra de autoridade sobre o tema por intermédio de
um documento conhecido como Exortação Apostólica pós-sinodal, ou por
meio de outro tipo de documento.
Ainda outros estão espalhando, até no seio da comunidade católica,
suspeitas e falsidades sobre esse Sínodo. É uma pena que isso aconteça e
seria bom informar-se bem, antes de emitir julgamentos descabidos. Há
mesmo quem diga que Sínodo vai abolir o celibato sacerdotal, autorizar a
ordenação de mulheres para o ministério sacerdotal ou transformar a
terra, a natureza e a floresta em uma espécie de “divindade”, desviando a
reta fé católica e apostólica. Também há quem já grita pelas mídias de
que se trata de um “sínodo herético” ou “maldito”! Ora essa! Vamos com
muita calma e não demos logo ouvidos a esses profetas apocalípticos,
espalhadores de teorias da conspiração e promotores de pânico no seio da
Igreja! Afinal, com qual autoridade e responsabilidade estão a falar
isso? A quem queremos dar crédito na Igreja? Não nos deixemos atrair
logo por sibilas de língua afiada e por pregações de “cavaleiros
solitários”, sem comunhão com a Igreja, que se propõem como salvadores
da Igreja! Fiquemos com os bispos que, em comunhão com o Papa Francisco,
têm o dever de zelar pela vida e a missão da Igreja.
Convido a rezar pelo bom êxito do Sínodo para a grande Amazônia e a
acompanhar as reflexões eclesiais que serão feitas, em vista de um
discernimento sereno sobre a vida e a missão da Igreja naquela grande e
importante Região da América do Sul. A reflexão diz respeito: a) à
presença e ao desempenho ainda insuficiente da própria Igreja na
Amazônia; b) ao homem amazônico, indígena, mestiço, ribeirinho e urbano e
sua situação naquela Região; c) ao ambiente (“casa comum”) da Amazônia,
ameaçado por diversos fatores e agentes, e em relação ao qual a Igreja
também tem a missão de anunciar a Boa Nova da salvação.
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Arcebispo Metropolitano de São Paulo